Com mais de 100 mil procedimentos realizados desde 2008, a cirurgia robótica transforma o tratamento oncológico no Brasil, país que já ocupa a 9ª posição mundial em número de plataformas tecnológicas e o 10º lugar em quantidade de procedimentos, segundo informações do Instituto Vencer o Câncer.
Parte dos tumores pode ser erradicada exclusivamente por meio de procedimentos cirúrgicos, graças à inovação. As tecnologias têm viabilizado cirurgia de grande porte com trauma reduzido, acelerando a recuperação e diminuindo complicações pós-operatórias. Em apenas cinco anos, o número de robôs cirúrgicos no país saltou de 51 para 111 equipamentos, conforme levantamento da Medicina S/A.
O avanço tecnológico contra o câncer, no entanto, não se limita aos robôs. Desenvolvimentos em laser, terapias ablativas, crioterapia e monitorização neural compõem um arsenal terapêutico para o tratamento de diferentes tumores.
“Com a robótica ganhamos em precisão, destreza, velocidade e qualidade”, explica o cirurgião oncológico Gustavo Guimarães ao Instituto Vencer o Câncer. Segundo ele, o robô funciona como um intermediário que potencializa a capacidade técnica do médico.
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Uso da tecnologia nos diferentes tipos de câncer
Conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de próstata vitimou cerca de 13 mil pessoas em 2021. Anualmente, aproximadamente 61 mil novos casos são diagnosticados, o que torna a doença o segundo tipo mais prevalente entre homens, superado apenas pelo câncer de pele não-melanoma.
Nos Estados Unidos, as prostatectomias já empregam a robótica, o que permite visualização amplificada, em alta definição e 3D, além de sangramento mínimo, dor pós-operatória reduzida e internações mais breves, conforme estudos na área. A cirurgia robótica também tem sido utilizada no tratamento do câncer de endométrio, ovário em fase inicial e casos selecionados de câncer cervical.
Um avanço nessa especialidade é a identificação do linfonodo sentinela com verde de indocianina. A técnica localiza com precisão os primeiros linfonodos que recebem a drenagem linfática tumoral, permitindo biópsia direcionada e menos invasiva. O conhecimento sobre as causas do câncer do colo do útero, em conjunto com os avanços tecnológicos, têm possibilitado diagnósticos mais cedo e tratamentos menos agressivos.
Muito além dos robôs
O leque tecnológico contra o câncer não se limita a robôs. O laser migrou “da ficção científica e uso militar para o uso médico em amplo aspecto”, segundo o Instituto Vencer o Câncer, alcançando tumores antes inacessíveis. Entre as modalidades não-robóticas, destacam-se três abordagens inovadoras: as terapias ablativas, termodinâmicas e a crioterapia.
As terapias ablativas empregam calor extremo ou substâncias químicas por meio de ultrassom de alta frequência para eliminar tumores prostáticos sem necessidade de remoção cirúrgica convencional.
No caso das terapias fotodinâmicas, o tratamento ocorre em duas etapas: primeiro é aplicado um agente fotossensibilizador (frequentemente na forma de creme) sobre a área afetada; depois, uma luz com comprimento de onda específico é direcionada à região, ativando uma reação química que destrói seletivamente as células malignas em tumores cutâneos, prostáticos e de diversos outros tecidos.
Já a crioterapia ataca as neoplasias pelo extremo oposto, utilizando temperaturas congelantes para destruir precisamente as células cancerígenas, preservando tecidos adjacentes.
Uma tendência emergente são as cirurgias single-port, ou seja, com acesso único, como detalha o cirurgião Gustavo Guimarães.
Crescimento do mercado
Um relatório da GlobalData projeta que a cirurgia robótica tem potencial para revolucionar os cuidados médicos até 2035, com o mercado de dispositivos podendo alcançar até US$58 milhões até 2033.
A Inteligência Artificial também começa a integrar-se aos sistemas cirúrgicos, analisando dados e aprimorando procedimentos. O ingresso de novas plataformas como o Versius (CMR Surgical) e o Hugo RAS (Medtronic) deve reduzir custos e ampliar acesso.
Barreiras econômicas limitam acesso
Embora promissora, a cirurgia robótica enfrenta barreiras no Brasil. A modalidade não está no rol da Agência Nacional de Saúde (ANS), portanto, não tem cobertura das operadoras de saúde. No Sistema Único de Saúde (SUS), algumas instituições contam com os robôs, como é o caso de Hospital do Câncer de Barretos, Instituto Nacional do Câncer, Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e Hospital das Clínicas em Porto Alegre
Operadoras como Unimed, Dor e Amil também reportam que têm investido nessas tecnologias mesmo sem obrigatoriedade regulatória, reconhecendo benefícios de longo prazo: internações mais curtas e complicações reduzidas.